Por Rafael Rez
Nos últimos anos, o mercado digital viu uma explosão de ofertas de cursos, especialistas, gurus e tudo mais relacionado ao empreendedorismo digital. Muitos se perguntavam quando isso iria acabar…
O que muita gente não compreende é que existem dois mercados: um mais antigo, até então chamado de “Marketing Digital”, e composto por diversos fundamentos de marketing, praticado em geral por empresas (B2B e B2C), agências e profissionais de comunicação, publicidade e marketing. Esse era um mundo complexo, inacessível, cheio de Startups, Venture Capitalists, Analytics e Conversion Rates, um universo restrito a especialistas, que falavam em código somente entre eles.
Outro mercado é o conhecido nos Estados Unidos como “Internet Marketing”, composto na maior parte por pessoas físicas, profissionais liberais e novos empreendedores em busca de seus 15 minutos de fama na internet. Esse mundo em geral começa com a promessa de “ganhar dinheiro na internet” e atrai toda sorte de pessoas, desde migrantes do multinível até empresários frustrados com as agências digitais e em busca de crescimento para os seus negócios. É um mundo democrático, que por isso incomoda quem antes achava que o detinha, por outro lado é terreno fértil para aproveitadores.
Quando o Internet Marketing chegou com força no Brasil, em 2013, trouxe uma série de conceitos controversos para o mercado, entre eles – só para citar um exemplo – os princípios de persuasão do Robert B. Cialdini, num modelo mais simplificado e acessível para os mais leigos. A escassez foi utilizada até o limite da exaustão, e o “mindset empreendedor” caiu na boca do povo. Cialdini é genial, mas era um desconhecido do mercado digital tradicional.
Os profissionais que lutaram a vida toda para explicar ao mundo o que era SEO, como funciona o leilão do AdWords, a importância das mídias sociais ou do relacionamento por e-mail com os clientes e leads, se viram “trapaceados” pelos novos entrantes, que prometiam mundos e fundos, receitas prontas para seguir e ter sucesso e muitos dígitos de faturamento ao alcance de qualquer um.
Estava plantada a semente da discórdia!
Enquanto de um lado profissionais tentavam defender seu mercado, do outro surgiam especialistas do nada, com autoridade fabricada por depoimentos obscuros e cases inacreditáveis. Essa é a razão do ódio que divide os dois lados dessa batalha.
O melhor marketing do mundo ainda é composto de capacidade de observação, síntese e empatia. Quem julga não compreende, e quem compreende, não julga.
O tempo foi passando, as promessas foram ficando mais tangíveis e a “magia dos 6 dígitos” foi ficando mais inalcançável. Paralelamente, enquanto muitos erravam, alguns acertaram e daí nasceram exemplos reais de gente que conseguiu criar negócios digitais que não fossem o modelo clássico da Startup, mas que geram valor para o cliente que compra. Porém, os novos entrantes aprendem rápido e foram se adaptando ao “jogo” – como eles mesmos gostam de chamar – e aprendendo a jogar cada vez melhor. Os produtos digitais de hoje estão muito superiores aos de três anos atrás.
Muitas agências digitais nasceram nesse meio tempo, mixando técnicas coletadas em ambos os mundos e entendendo que era possível fazer mais do que fora ensinado até então.
Hoje o que mais sobra no mercado é empreendedor digital com carteira assinada e consultor de marketing digital que segue cartilha, ao invés de pensar. São ambos parte de uma grande engrenagem que não conseguem compreender.
Para complicar ainda mais, o alcance orgânico evaporou e o sonho das mídias sociais se tornou pesadelo, obrigando todos a aprender sobre ROI do dia pra noite. O que antes era de graça passou a custar cada vez mais dinheiro.
Com o país em crise, quem mais está se saindo bem são os empreendedores digitais, com seus custos baixos, flexibilidade de receita e modelos de negócio ágeis, mesmo que muitos deles não saibam o que cada uma dessas coisas signifique…
Agora que o tabuleiro está equilibrado, os novos empreendedores da internet estão tendo de aprender a jogar o velho jogo: multiplicar os canais de tráfego, escalar a conversão de leads e otimizar a conversão em vendas, assim como os melhores profissionais da antiga já faziam, mas por quantias módicas de dinheiro. Mais ainda: estão aprendendo que valorizar o cliente entregando um bom produto é o que garantirá que o negócio possa durar mais tempo. Estão coletando depoimentos reais e aprendendo a jogar o jogo melhor que o pessoal da antiga.
Esse dinamismo é o que mais me fascina na internet!
A regra do jogo pode mudar de uma hora pra outra, sem aviso prévio, e quem não se adaptar, morre ou fica se lamentando. E se há gente querendo ganhar dinheiro fácil, também há gente criando negócios incríveis, com conteúdo excepcional e brigando pelo seu lugar ao sol.
Acabo de trocar algumas percepções com um cara que começou no mercado digital tradicional, migrou para o novo mercado digital e vem fazendo história, a despeito da inveja de alguns e do desprezo de outros. Desde que o cliente esteja satisfeito e a entrega seja honesta, cada um promete o que pode.
Criticar sem compreender não levará ao amadurecimento do mercado. Há forças tão grandes que não podem ser detidas, fazem parte da natureza humana. O melhor marketing do mundo ainda é composto de capacidade de observação, síntese e empatia. Quem julga não compreende, e quem compreende, não julga.
Agora vou lá tomar remédio pra dor, que hoje tá foda!